QUE TRIBO É ESSA?

03/03/2007 09:26

Emos, a nova tribo dos adolescentes...


Você já deve tê-los visto nas ruas, mas talvez não tenha percebido, dada a semelhança com outros grupos de jovens. Parecem punks, com suas roupas despojadas e acessórios metálicos, mas não têm posicionamento político. Lembram os góticos, com seus cabelos pretos, franjas enormes e olhos pintados, mas não conhecem a arte gótica e nem freqüentam cemitérios com os amigos. Em vez disso, encontram-se em praças e lugares badalados, misturam o preto a colares, lacinhos de cabelo e munhequeiras coloridas, pregam a liberdade sexual e têm entre 12 e 18 anos, em sua maioria. Gostam de ouvir um estilo de música chamado emocore, ou emotional hardcore, que mistura a batida do hardcore com letras românticas, e é daí que tiraram o nome de sua tribo: emos. Eles estão em todos os lugares, e estão na moda.
Para quem acha que não sabe o que é emocore, basta ligar a televisão na MTV. Lá, estarão, no topo das paradas, os clipes de bandas como as brasileiras 4Fun, Fresno, Dance of Days, NX Zero e Emo. E as internacionais Simple Plan, Good Charlotte, Dashboard Confessional e My Chemical Romance. Os emos em geral gostam dessas bandas, mas muitas delas não se dizem emo. Não é à toa: ser emo virou, de repente, um insulto. Ser, deliberadamente uma banda emo, então, pode afastar muitos fãs que gostam da banda, mas odeiam o rótulo.
Segundo a VJ da MTV Luísa Micheletti, de 22 anos, o emo é uma combinação: “É hardcore melódico, que têm influência punk, mas não é político, é sensível. As letras e melodias são voltadas para o amor, relacionamentos e problemas de família”. Os adolescentes gostam desse tipo de música porque acabam se identificando, diz ela. “É a fase dos conflitos familiares, da descoberta amorosa e da descoberta de si mesmo.” O visual também mescla influências. “Eles se vestem com uma certa influência do punk, mas com coisas fofas, como a Hello Kitty, por exemplo.”
Isabella Monteiro de Souza Augusto, de 16 anos, se diz uma adolescente emo. “Gosto das músicas, mas não me visto muito como os emos”, conta. Para ela, ser emo não é apenas se vestir conforme manda o figurino, “mas sim gostar da música e, principalmente, da letra”. “Eu até me visto um pouco, mas nada muito exagerado. Não estou a fim de seguir os outros nisso. Gosto de ser eu mesma, apesar de ser emo. Não preciso me vestir assim para mostrar quem sou.”
A música Cada poça dessa rua tem um pouco das minhas lágrimas, do grupo Fresno, é citada como uma de suas preferidas. “As letras falam sobre emoções, sentimentos, amor, ódio, tristeza, solidão, mas de uma forma muito detalhada.” Ela admite se identificar com algumas das canções. “Elas falam de coisas reais pelas quais passamos a cada momento.”
Amanda Saboia Sales, de 18 anos, também é emo. Ela, ao contrário de Isabella, gosta de se vestir no estilo: usa roupas pretas, pulseiras, meias coloridas e tênis All Star há mais ou menos cinco meses. Mas, assim como Isabella, gosta muito das letras das músicas emo. Duas das músicas de que mais gosta são Hellena e I´m not OK, de My Chemical Romance. Ela também diz que as letras falam de amor, mas de forma profunda, e muitas vezes se identifica com elas.

 

  • Bandeira

Além da música e do visual, os emos têm alguma ideologia? Marlon Dani Manhães Neto, de 17 anos, garante que sim. “Os emos tentam mostrar que, através do amor, tudo é possível. Buscamos demonstrar nossos sentimentos, sem ter vergonha do modo como a sociedade irá reagir, sempre com respeito, caráter e atitude.”
A princípio, não se pode imaginar de que forma os emos poderiam incomodar outros grupos. Não se reúnem para brigar com outras tribos e, até por isso, parecem inofensivos. Não é isso, porém, que acontece na realidade. No site de relacionamentos Orkut, por exemplo, há dezenas de comunidades, com milhares de membros, cujos nomes até variam um pouco, mas a idéia é sempre a mesma: Ainda jogo uma bomba num show emo, Emo, nem morto, Chora emo, Eu odeio emodinha, Mate um emo e seja feliz, Hitler era emo, Será que existe emo macho?, entre diversas outras.

 

  • Generalização

O rótulo “emo” é uma das coisas que mais incomoda os adolescentes. Dentro desse universo, grande parte não se define como um legítimo emo. Tem quem goste da música, mas não do visual. Há quem goste do visual, mas não da música. E há quem goste dos dois. “A maioria das pessoas que você perguntar vai negar que é emo. É uma moda adolescente, mas ninguém quer ser rotulado. As pessoas são diversas demais e a personalidade não pode ser definida por tão poucas coisas”, diz a VJ Luísa.

 

  • Música

Ronaldo Rinaldi Ceron, o DJ Click, conhece bem os emos e acha que a tribo é odiada por diversos motivos. No entanto, vê um lado positivo na existência dessa tribo. Para ele, é preferível que os adolescentes ouçam hardcore e emocore do que pagode e axé, que, em sua opinião, são muito piores. “Pelo menos, o estilo não é vulgar”, considera. “Seguindo esse caminho, daqui a uns anos, vão amadurecer, pesquisar e descobrir um rock mais maduro.” Como exemplo, o DJ cita, nos anos 80, The Smiths, Joy Division e The Cure. Nos anos 90, Smashing Pumpkins e R.E.M.. Atualmente, The Killers, Kaiser Chiefs e The Strokes. “Queiram ou não, eles têm uma raiz no rock. As roupas que eles usam são influências das bandas dos anos 70, 80 e 90.”

 

  • Psicologia

Mas há motivo para os pais se preocuparem se têm filhos emos? Especialistas dizem que não. “Como todo grupo de jovens, os emos preenchem necessidades individuais de seus participantes. A adolescência é um período em que a antiga identidade infantil foi perdida, a partir da consciência da existência da individualidade, e busca-se nos iguais um espelho, um outro que retrate o que se está sendo”, diz o psicoterapeuta Miguel Perosa.

“Além das alterações do corpo pelas quais já passaram, nesta fase, os adolescentes perdem vários ideais, que envolvem os pais infantis e o deixar de ser criança. Estes grupos tentam facilitar essas elaborações e revelam um aspecto da adolescência que é a atitude de se opor”, completa a psicóloga Ivonise Fernandes da Motta.
O visual, segundo Perosa, é muito importante nessa fase e especialmente hoje em dia, “numa cultura marcada fundamentalmente pela imagem”. “Os piercings, as tatuagens, o cabelo, são o visual de pertencimento ao grupo. Proibi-los é o mesmo que dizer que o filho não pode ter interação social. Acredito que se deve apenas coibir os exageros, não proibi-los.”
Para Ivonise, os emos são, sob um certo aspecto, melhores do que outras tribos. “Se bem direcionado, o grupo tem um efeito positivo. Sem dúvida, é um grupo melhor, por não aliar violência e delinqüência. Eles têm limites mais diferenciados: ‘não preciso atacar o outro para afirmar minha identidade’.” Para ela os grupos que precisam agredir outras pessoas demonstram uma fragilidade muito grande.
E quanto à aparente tristeza? “Depressão é diferente de tristeza. Uma característica básica da depressão é o enorme desânimo, a falta de energia para a realização de qualquer atividade, individual ou coletiva. Talvez essa característica seja um bom critério diferencial, junto com a perda de sono e de apetite”, diz Perosa. “Se os pais perceberem que o adolescente apresenta uma tendência passiva muito grande, uma certa oposição a enfrentar o dia-a-dia, a realidade, pode ser um sinal. A questão não é ser emo, e sim outras dificuldades que o adolescente está tentando enfrentar e não está conseguindo”, completa Ivonise.
 


 Fonte de Pesquisa: diario popular

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